terça-feira, 20 de setembro de 2011

CADERNETA PESSOAL


A ambição universal dos homens é viver colhendo o que nunca plantaram”. Esta frase é atribuída ao economista e filósofo escocês Adam Smith. Ela sintetiza o que vai dentro de todos nós, poupando um tempo valioso, para quem a assimila e aceita, na autoconstatação de uma realidade provinda do âmago de nossos desejos mais básicos.
O esforço, portanto, é necessário, mas poucas vezes desejado (salvo por aqueles que já se conscientizaram de sua imprescindibilidade) e isso fica bem evidenciado em qualquer mensagem espiritual séria, que sempre realça a necessidade de perseverança.
Como a Caderneta Pessoal não é fim ou objetivo, mas, sim, o meio pelo qual a pessoa se condiciona a perseverar no “conhece-te a ti mesmo”, implica em esforço não só nas anotações periódicas, mas também e principalmente no esforço de desnudar-se com a frequência necessária diante do tribunal da própria consciência. Graças a isso, a utilização não apenas mecânica e forçada, mas sim espontânea e mais focada na vivência das propostas de mudança ali registradas, leva o aprendiz a uma plena sintonia com uma das qualidades de “O Homem de Bem” (O Evangelho Segundo o Espiritismo – cap. XVII) que, dentre outros ensinamentos, nos alerta que: “O verdadeiro homem de bem é aquele que estuda as suas próprias imperfeições, e trabalha sem cessar em combatê-las. Todos os seus esforços tendem a permitir-lhe dizer, amanhã, que traz em si alguma coisa de melhor do que na véspera”.
Oh, mas como é difícil estudar imperfeições e trabalhar sem cessar em combatê-las! Estudar imperfeições é reconhecer equívocos na forma de conduzir nossa vida; e combatê-las sem cessar é praticamente nadar contra a correnteza dos impulsos a que estamos acostumados.
Um exemplo de esforço não só de, digamos, anotação (no caso, em uma carta), mas também de reforma íntima, são as sinceras palavras de Paulo, na Epístola aos Romanos, 7:14-20. Ali, quando diz que a lei que está em seus membros luta contra a lei da sua razão, Paulo deixa bem claro o esforço que o ser humano terá que empreender para que a razão, embasada nos exemplos de Jesus Cristo, vença os instintos egoístas, ou seja, os defeitos que ainda estejam enraizados dentro de si.
Ao contrário do que possa parecer, somos, no presente momento, seres privilegiados já que dispomos de um professor chamado Jesus, seguido por um racional e destemido auxiliar chamado Espiritismo, além é claro desta valiosíssima e um pouco mais lúcida encarnação a nos proporcionar um recomeço mais firme no esforço da reforma íntima. Assim, não deixemos para outra encarnação o que podemos e devemos fazer agora. Neste sentido, para encerrar, vale a pena lembrarmo-nos da conversa contida no livro Reencarnação no Mundo Espiritual, cap. 10, pag. 107, psicografado pelo médium Carlos A. Baccelli, ocorrida entre os espíritos Dr. Inácio Ferreira, autor espiritual do livro e um dos responsáveis pelo Hospital Esperança existente na erraticidade, e Rosendo, este paciente do hospital e mais um dos diversos espíritas desencarnados e desiludidos consigo mesmos ao se depararem com a realidade de falta de luz interior, embora muitos com extensa ficha de trabalhos meritórios dentro da doutrina:
“- Bendita seja a Reencarnação! – exclamou. – Mas devo, antes, me preparar um pouco mais… Se optasse por imediato regresso ao corpo, correria o risco de reincidir, o senhor não acha?
- Acho! [...] Você está certo: fortaleça-se primeiro! Trabalhe, estude e, sobretudo, medite, quanto puder, nos insucessos e frustrações em sua derradeira romagem no corpo. Efetue, você mesmo, um balanço do que fez e do que deixou de fazer. Há uma técnica que, talvez, possa lhe ser útil – ela tem sido utilizada por muitos de nós: escreva, nas páginas de um caderno, uma espécie de diário de auto-análise, procurando transferir para o papel, com toda a honestidade, os seus pensamentos a respeito de si… Chega, não é? De avaliar a vida alheia. Já fizemos doutorado em julgar os outros!”
Assim, esforcemo-nos para fazer a caderneta desde já e com honestidade, como diz o Dr. Inácio, para que, quando do outro lado, não nos surpreendamos por estarmos muito atrasados na tarefa essencial das nossas vidas: a nossa evolução espiritual.
Marcelo Ricardo Lemes Rebocho – Regional SP-Norte
O Trevo/Jan-2011 – Aliança Espírita Evangélica


Nenhum comentário:

Postar um comentário